Carcaça de baleia incomoda banhistas em Goiana

Por Rafael Santos 14/01/2016 18:29 • Atualizado 14/01/2016
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População local teme que o espécime enterrado contamine toda a área e seu entorno.// Foto: Jedson Nobre/Folha de Pernambuco

População local teme que o espécime enterrado contamine toda a área e seu entorno.//Foto: Jedson Nobre/Folha de Pernambuco

A presença de uma baleia cachalote enterrada na Praia de Carne de Vaca, em Goiana, no Grande Recife, tem desagradado moradores e banhistas que frequentam o local. Eles alegam o forte mau cheiro e ainda temem que a carcaça do animal contamine a área. Muitas mães, inclusive, vetaram os filhos de brincarem no local. Na manhã de ontem, funcionários da prefeitura do município repuseram, com o auxílio de uma retroescavadeira, uma maior quantidade de areia na tentativa de reduzir o odor. Porém, a presença das moscas davam indícios da localização do mamífero. Conforme mostrado pela Folha, o espécime, de 9,5 metros de comprimento e mais de oito toneladas, foi enterrado a uma distância considerada segura (a 200 metros de distância da linha do mar), numa cova de quatro metros de profundidade, conforme orientação de veterinários e biólogos da Fundação de Mamíferos Aquáticos (FMA). No entanto, uma comunidade próxima ao local do enterro – a cerca de 100 metros – alerta que o mês de fevereiro é de marés altas, o que pode acabar desenterrando o animal e, com isso, haver vazamento dos resíduos. As casas, inclusive, têm poços e a preocupação de que a gordura da baleia vaze para os reservatórios é unânime.

“Muita gente já passou mal com esse odor, chegando até a desmaiar e vomitar. É um absurdo, pois, antes mesmo de enterrarem, deveriam levar em consideração as pessoas que moram no entorno. É enterrar (a baleia) e esquecer as consequências? Então, não importa como fica a nossa situação? Era para abrir essa cova num lugar muito mais distante da comunidade. Até ontem (terça-feira) estava insuportável, uma fedentina só”, queixou-se a dona de casa Lucélia Silva, moradora há 20 anos da área. Ela tem um filho de 1 ano e 2 meses e foi taxativa: “Ele não vai mais brincar nesse trecho da praia. Nem no mar ele vai entrar”. O pescador Elenildo de Sousa, 64 anos, também demonstrou a sua indignação. “A baleia solta muito óleo, é um animal bastante gorduroso. Se isso tudo for para a água que a gente toma banho, lava os pratos, escova os dentes? Era muito mais prático ter incinerado o animal. Ia ser bom para todo mundo porque, além disso, não iríamos sofrer com o mau cheiro”, opinou.

JUSTIFICATIVA – Procurado pela Folha, o secretário de Agricultura, Pesca e Meio Ambiente de Goiana, Marcelo Andrade, explicou que seguiu todas as recomendações técnicas dos médicos-veterinários e biólogos da FMA. De acordo com ele, todos os temores são infundados. “Seguimos à risca as orientações dos especialistas. Enterramos no local indicado por, justamente, ficar acima da maré. Além disso, à medida que a terra vai assentando porque o animal está se decompondo, vamos repondo mais areia”, detalhou. Para o aposentado Severino Tavares, 66 anos, o problema em questão não é o enterro da baleia ou se a prefeitura vai tomar medidas que diminuam mais o odor. “Já começaram errando em não ter nos consultado. Somos gente. Somos moradores. Eu, realmente, espero que nada sobre para nossa comunidade”, alfinetou.

PUTREFAÇÃO – Na avaliação da médica veterinária Rosilda Barreto Santos, não há por que os moradores se preocuparem. Ela, inclusive, chamou a atenção para o local onde a baleia foi enterrada, que foi favorável ao processo de decomposição do cetáceo. Segundo ela, o fato de o animal ter sido enterrado numa área ensolarada ajuda a acelerar o processo de putrefação. “É capaz de quando chegar fevereiro, caso haja maré alta mesmo, esse animal já estar se transformando em esqueleto”, previu. Quanto ao vazamento de gordura para os poços e riscos de contaminação, ela afirmou que os moradores não devem se preocupar. “A própria terra absorve tudo: o chorume, o óleo, os tecidos moles”, explicou.

Da Folha de Pernambuco

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