Os primeiros tiros dos bacamarteiros anunciavam o início do seminário do Festival Canavial 2014. Com o tema Cultura Rural a ação reuniu mais de noventa pessoas na moita do Engenho Santa Fé, em Nazaré da Mata, na manhã desta sexta feira (14) para discutir o assunto.
Com duas mesas redondas divididas entre manhã e tarde, estavam presentes os palestrantes: Marcelo Melo (Músico do Quinteto Violado), Ivan Marinho (Presidente da Federação de Bacamarteiros de Pernambuco) e Ivanildo Vilanova (Repentista), na primeira com a coordenação de Afonso Oliveira (Produtor Cultural); Aldo (Baixinho dos Oito Baixos – Músico), Anildomá Willams (Secretário de Cultura de Serra Talhada e Diretor da Fundação Cultural Cabras de Lampião) e Pedro Vasconcelos (Diretor da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural – MINC), na segunda com a coordenação de Severino Vicente (Historiador e Professor da UFPE).
Durante todo o dia a discussão permeou pelo conceito de cultura rural e as vivências de cada palestrante com a música, a poesia, as muitas linguagens da cultura rural. Enfatizando a importância da cultura produzida no interior do Brasil para construção da diversidade do patrimônio imaterial, com a presença de maior quantidade de diferentes manifestações artísticas produzidas pela população do interior dos estados. Atuante na perpetuação da história e da cultura cangaceira no sertão de Pernambuco, Anildomá afirmou: “O meu universo sempre foi rural, sobretudo, no campo da cultura: o aboiador, as toadas, Luiz Gonzaga (…) sempre foi um universo rural. A diversidade do Sertão é imensa, de várias formas o cangaço se manifesta no nosso fazer cultural”.
Tanta riqueza nas manifestações culturais, principalmente pelas diferentes linguagens produzidas, potencializa a interação na criação e difusão dessas enquanto símbolos – representação – da cultura brasileira, e por isso o espaço do rural torna-se tão importante. “O grande atrativo é a música (pífano ou pife), que chama público para ver as apresentações e peças artesanais, relatou Ivan Marinho sobre a maneira de atrair o púbico para as brincadeiras dos batalhões de Bacamarteiros.
Para reconhecer, valorizar e garantir a produção dessa cultura rural tão rica, algumas políticas públicas vem sendo implementadas, como é o caso da lei 13.018/2014 – a lei cultura viva – que transforma o programa cultura viva, em política de estado. O programa desenvolvido em 2004 pelo Ministério da Cultura (MINC), com o compromisso de “desesconder” o Brasil dos próprios brasileiros, articulando cidadania, cultura e educação em ações que visam incentivar, promover e preservar a cultura brasileira em toda sua diversidade; teve como base de articulação a criação dos Pontos de Cultura – grupos e organizações que promovem ações culturais de diversas naturezas passaram a receber aporte financeiro governamental.
Hoje, a lei está em processo de regulamentação e deve ser finalizado até 2015. Confiante com esta aprovação como uma grande conquista, Pedro Vasconcelos, representante do MINC, afirmou em seus esclarecimentos: “O estado brasileiro agora inverte a lógica [da história das políticas públicas] e apoia iniciativas no interior, iniciativas que não tinham apoio. Cabe ao estado reconhecer e apoiar esses grupos. Com o cultura viva nós queremos construir essas políticas para o trabalho desses grupos de uma forma independente”. O seminário encerrou com as apresentações do Coco Popular de Aliança e o Cavalo Marinho Mestre Batista.
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