Pernambuco investiga terceira morte suspeita de intoxicação por metanol

Mortes foram registradas nos municípios de Lajedo e João Alfredo, no Agreste. Polícia investiga possível compra de bebidas em caminhão de Belo Jardim.

Por Rafael Santos 01/10/2025 16:54 • Atualizado Há 4 horas
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Uma quarta pessoa pode ter sido vítima de intoxicação por metanol em Pernambuco. Oficialmente, três casos suspeitos foram notificados em Pernambuco pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) na terça-feira (30).

Os casos já notificados aconteceram em municípios do Agreste: uma morte e uma perda de visão, em Lajedo, e uma morte em João Alfredo. A Polícia Civil, no entanto, aponta que um terceiro homem também bebeu de um uísque possivelmente contaminado em Lajedo e morreu antes de ser encaminhado ao Hospital Mestre Vitalino (HMV), em Caruaru, que é a unidade de saúde que fez as notificações.

Os novos detalhes sobre a investigação de possíveis casos de intoxicação por metanol foram repassados pela diretora da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Karla Baêta, e pelo delegado titular de Lajedo, Cledinaldo Orico, em entrevista coletiva no Recife, nesta quarta (1º).

São suspeitos de contaminação por metanol no estado:

  • Um homem de 43 anos, de Lajedo, identificado como Celso da Silva, que deu entrada no Hospital da Mestre Vitalino no dia 2 de setembro e morreu uma semana depois, no dia 9;
  • Um homem de 32 anos, de Lajedo, identificado como Marcelo dos Santos Calado que deu entrada no HMV no dia 4 e recebeu alta no dia 23, com perda da visão;
  • Um homem de 30 anos, de João Alfredo, internado na última sexta (26) no HMV e com morte confirmada na terça (30);
  • Um terceiro homem de Lajedo, identificado como Jonas da Silva Filho, que morreu na madrugada do dia 29 de agosto, antes de ser transferido para o HMV.

De acordo com o delegado titular de Lajedo, Cledinaldo Orico, há indícios de que os três casos possíveis de contaminação por metanol na cidade tenham partido de garrafas de uísque compradas por uma das vítimas, em um caminhão na cidade de Belo Jardim, para revenda.

Por não suspeitar de contaminação, ainda segundo o delegado, o próprio comprador tomou a bebida, acompanhado de dois cunhados, enquanto acontecia um festival de rock na cidade.

“Não era um bar. Um deles adquiriu esses produtos com finalidade de revenda, mas, ao que indica, não tinha desconfiança da corrupção tóxica dessa bebida e também fez a ingestão. Três pessoas fizeram essa ingestão, duas delas faleceram e uma, graças a Deus, está viva, mas com a visão comprometida”, afirmou o delegado.

Apesar de duas pessoas de Lajedo terem morrido, a SES só notificou uma morte na cidade. Segundo Karla Baêta, diretora da Apevisa, a diferença ocorre porque apenas dois dos homens foram transferidos para o Hospital Mestre Vitalino, que realizou a notificação. Por conta disso, a morte está sendo investigada pela polícia, mas não é um dos casos considerados suspeitos pela SES.

“Esses três casos são da cidade de Lajedo, só que nem todos os três casos deram entrada pelo hospital [Mestre Vitalino]. […] Esse terceiro foi [mencionado] durante a oitiva, durante a conversa com a esposa[de uma das vítimas], que teve um terceiro caso que não deu entrada no hospital”, disse a diretora da Apevisa.

Apesar disso, a segunda morte em Lajedo também foi confirmada pela prefeitura da cidade através de nota. Segundo o município, três pessoas deram entrada no Hospital Municipal Maria da Penha apresentando sintomas semelhantes, mas um deles, Jonas da Silva Filho, morreu antes de ser transferido para o Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru.

De acordo com o delegado, a investigação já conta com garrafas de uísque entregues à polícia pela esposa de uma das vítimas, que suspeita de adulteração.

“A esposa de uma das vítimas nos procurou e nos apresentou algumas garrafas de uísque supostamente corrompidas, então nós de imediato procedemos à oitiva dessa senhora, enquanto seu marido estava em estado grave no hospital em Caruaru. De imediato, nós já requisitamos também a realização de exame pericial, tanto nos corpos, quanto na bebida, para que possamos detectar realmente se há essa intoxicação pelo metanol”, afirmou.

A confirmação depende dos exames periciais. “Ainda não temos essa certeza, temos uma suspeita grande, mas a certeza depende de perícia técnica. Como é um delito que deixa vestígios, o Código de Processo Penal determina que seja realizado o exame pericial para comprovar a materialidade”, explicou o delegado.

Cledinaldo Orico disse ainda que requisitou prontuários médicos ao Hospital Municipal Maria da Penha e comunicou outros estados para verificar se há ligação entre os casos, como a Polícia Civil de São Paulo, para verificar “se há um elo comum entre as situações”.

Enquanto a polícia apura a origem da bebida, a Apevisa anunciou que vai ampliar o processo de fiscalização e notificação em todo o estado. A ação contará com participação conjunta de órgãos como o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), o Ministério Público e o Ministério da Agricultura.

Em caso de dúvidas, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox-PE) funciona 24 horas através do número 0800 722 6001. Denúncias também podem ser feitas à Ouvidoria da SES, pelo número 136; ao Procon no número 0800 282 1512; e à Delegacia de Crimes contra o Consumidor, pelo telefone (81) 3184-3835.

Contaminação por metanol

Até a tarde desta quarta-feira (1º), os episódios confirmados de infecção por metanol se concentram no estado de São Paulo, sendo:

  • 5 mortes confirmadas por intoxicação com metanol;
  • 1 morte confirmada por intoxicação a partir de bebida adulterada;
  • 4 mortes sob investigação da origem da contaminação;
  • 17 casos suspeitos em investigação.

Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dos cinco mortos registrados no estado, quatro pessoas eram da cidade de São Paulo e uma faleceu em São Bernardo do Campo, mas provavelmente consumiu bebida na capital paulista.

Uma reportagem do Fantástico do domingo (28) mostrou casos recentes envolvendo o consumo de gin, uísque e vodca, comprados tanto em bares quanto adegas da cidade. Em um dos casos, um jovem internado em estado grave há quase um mês passou mal após beber gin com amigos. Outra vítima perdeu a visão após tomar três caipirinhas preparadas com vodca em um bar.

Infográfico: o impacto do metanol no corpo humano. — Foto: Arte/g1

Infográfico: o impacto do metanol no corpo humano. — Foto: Arte/g1

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