‘A pessoa matou por preconceito, porque era preto’, diz pai de estudante morto por confundir carro

Por Rafael Santos 21/12/2020 12:27 • Atualizado 21/12/2020
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“Ele era estudante e não bandido”. É com essas palavras que Alfredo Barbosa da Silva Neto resume o sentimento de perda do filho Antonio Barbosa da Silva Neto, de 27 anos, assassinado na última quinta-feira (17), em Carpina.

Antonio Neto, que era estudante de Geologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), confundiu o carro do pai com um outro veículo estacionado na agência da Caixa Econômica Federal de Carpina. Ao tentar entrar pelo lado do carona, foi assassinado com diversos tiros. O assassino fugiu e, até esta segunda-feira (21), não havia sido preso.

“A pessoa matou ele por preconceito, porque ele era preto e tinha barba desleixada. Disseram que [o assassino] era um ex-policial, que era policial da ativa, depois que não era policial, nada ao certo, só suspeitas e nada definitivo”, relata o pai, que tem 54 anos e é secretário de obras de Tracunhaém, também na Mata Norte, onde morava, assim como Antonio Neto.

No dia do assassinato, Antonio Neto e o pai foram à agência da Caixa em Carpina para sacar dinheiro. Era por volta das 19h. “Ele me chamou para ir em Carpina e tirar um dinheiro. Estacionei o carro, ele saiu e foi buscar o dinheiro. Fiquei dentro do carro e nesse meio tempo eu ouvi um tiro”, relembra Alfredo.

Depois de ouvir os disparos, o pai saiu de dentro do carro, quando viu o filho morto no chão. “Acho que foram vários tiros. Ele ainda correu para vir para o meu carro. Dizem que o carro era preto igual ao meu e o rapaz não deu chance a ele, que foi abrir o carro do lado do carona. Não foi para dizer que era um assalto”, acrescenta o pai.

Em nota enviada à reportagem, a Polícia Civil de Pernambuco informou que as investigações seguem “até a completa elucidação do crime”. A corporação ainda afirma que mais detalhes serão repassados apenas ao final das diligências.

De acordo com o Alfredo, chegaram até ele informações de que a polícia solicitou imagens de câmeras da rua e da praça próxima à agência onde ocorreu o crime. 

“Vamos ver o que acontece, cobro justiça para que não fique impune. Meu irmão foi lá na delegacia e disseram que já estão em campo. Até agora não dizem nada. Eu ainda vou com meu advogado na delegacia para ver alguma posição oficial”, continua o pai.

O universitário seria pai em janeiro, sua esposa está grávida de oito meses. Seu pai ainda relata que ele havia passado em um concurso público para assumir funções de Serviços Gerais na ciade de Macaparana, na Zona da Mata Norte do Estado.

“Ele queria um emprego, fez o concurso porque queria de imediato”, explica o pai, acrescentando que Neto havia entregue os documentos para assumir o emprego um dia antes de ser assassinado. “Provavelmente seria chamado esses dias. Estava feliz, com a filha para nascer, iria terminar os estudos”, descreve Alfredo.

“Eu fico muito triste, era uma pessoa muito contente com todo mundo. Não vejo ninguém se queixando dele. Fica aquela perda, ele era o filho mais chegado, o cara que tudo era com ele. Se eu ia a uma praia, ia comigo, tudo fazia comigo”, conclui o pai.

O enterro do corpo de Neto ocorreu na última sexta-feira (18), no Cemitério Municipal de Tracunhaém.

Folha de Pernambuco

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