Mestres do artesanato pernambucano são retratados em livro da Cepe

Feira de Sonhos conta a história de 15 artesãos das diferentes regiões do Estado e a importância da Fenearte na divulgação de seus trabalhos

Por Rafael Santos 03/07/2023 16:11 • Atualizado 03/07/2023
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Ao longo de três meses, os jornalistas Catarina Lucrécia, Daniela Nader e Márcio Markman percorreram quase três mil quilômetros entre o mar e o Sertão para encontrar grandes nomes da arte popular. O resultado da viagem é o livro Feira de Sonhos: Artesanato pernambucano – volume 2com a história de 15 mestres e mestras que transformam couro, fibra, barro e madeira em peças únicas. Nas 224 páginas da publicação, que integra o catálogo da Cepe Editora, os autores desbravam o universo social, cultural e de resistência dos artesãos. Também mostram a importância da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) para dar visibilidade à obra dos artistas e abrir caminhos no mundo dos negócios e do empreendedorismo. O livro será lançado pela Cepe, em 8 de julho próximo, às 18h, na Fenearte.

Dos mestres e mestras que integram o livro, seis moram na Região Metropolitana do Recife (RMR), um reside na Mata Norte, três no Agreste e cinco no Sertão. “Quando a gente decidiu contar a história dos mestres, a intenção era fazer com que as pessoas enxergassem muito além das lindas peças e embarcassem em uma viagem pelo riquíssimo universo da cultura popular pernambucana. E que também tivessem um olhar mais apurado para a vida desses artistas em todos os aspectos, além de mostrar que a arte tem um papel fundamental na transformação social de um povo, de um país, quando é trabalhada como uma forte política pública”, explicam Catarina Lucrécia Araújo e Márcio Markman, que assinam os textos, e Daniela Nader, autora das mais de 300 fotografias da obra. O primeiro volume de Feira de Sonhos, com o perfil de 11 mestres e mestras do artesanato, foi lançado em 2022 pela Cepe Editora.

Mestre Cunha, nome popular de José Francisco Cunha, é um dos personagens com a história contada em Feira de Sonhos. Morador de Jaboatão dos Guararapes e reconhecido pelo Governo do Estado como Patrimônio Vivo de Pernambuco, ele constrói peças únicas em madeira há mais de 30 anos. Em sua arte, o mestre promove o encontro entre diversos elementos figurativos. “No universo peculiar dele, um peixe pode se transformar em um veículo de passageiros, por exemplo”, descreve Márcio Markman. Assim como Mestre Cunha, outros sete mestres retratados no livro trabalham com madeira: Abias (Igarassu), Saúba (Jaboatão), Wagner Porto (Garanhuns), Marcos (Sertânia), Chico Santeiro (Triunfo), Bezinho (Ibimirim) e Mazinho (Lagoa Grande).

O percurso dos autores para compor o mapa do segundo volume de Feira de Sonhos passa pelas obras em barro dos mestres Mano de Baé (Tracunhaém), Nada (Olinda), Nena (Cabo de Santo Agostinho) e Luiz Antônio (Caruaru). Hoje, aos 87 anos, Luiz Antônio, criador de peças como O Fusca, A máquina de fazer telhas e O Eletricista, espalhadas mundo afora, é um dos discípulos de Mestre Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963), de quem recebeu o apoio para vender suas peças na Feira de Caruaru e ouviu uma frase que nunca esqueceu e norteia sua caminhada de artesão: “A arte é para todos”. No livro, Catarina, Daniela e Márcio apontam nesta direção, ampliando a lista dos mestres e mestras com os cordéis e xilogravuras do Mestre J. Borges (Bezerros) e os trabalhos em fibras, casos da Mestra Chiquinha (Salgueiro) e das tapeceiras do Timbi (Camaragibe).

A ligação dos mestres e mestras retratados no livro com a Fenearte é estreita. Em alguns casos, ela ocorre desde a primeira edição da feira, realizada no ano 2000. Nesta lista entram J. Borges e as tapeceiras de Camaragibe, por exemplo. Outros mestres e mestras começaram a expor e a vender os trabalhos bem depois, como Mano de Baé, que levou as suas primeiras peças para a Fenearte em 2014. Nesse ano, foram 14 peças. Em 2019, quando pensava em colocar o seu próprio estande, foi comunicado que, a partir daquele ano, seria um mestre e teria lugar próprio. Desde então, não leva menos de 200 peças para o evento. “A Fenearte me projetou muito. Não tem como não ser. Sabe aquela história de que aqui a magia acontece? Pronto. É a Fenearte”, reconhece Mano.

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