O time do Palmeiras é imbatível na América?

Por Rafael Santos 29/06/2022 16:26 • Atualizado 29/06/2022
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Em outubro de 2020 ocorreu uma verdadeira transformação na equipe da Sociedade Esportiva Palmeiras com a chegada do técnico português Abel Ferreira. Aquilo que podemos chamar de liga perfeita, uma simbiose única que revolucionou o futebol de um time historicamente gigante, passa a dominar as principais competições no Brasil e na América do Sul. As conquistas foram emblemáticas, campanhas irretocáveis que resultaram em duas Libertadores da América, em 2020 e 2021, uma Copa do Brasil em 2020, uma Recopa Sul-americana, 2022, e o Campeonato Paulista de 2022.

O futebol praticado pelo Palmeiras, ao contrário do que se possa imaginar, não é uma mera fórmula tática, para além disso trata-se de uma disposição emocional introjetada pela habilidade mental do treinador lusitano que consegue extrair do profissional o que ele tem de melhor, abstraindo eventuais deficiências. O coletivo e a adaptabilidade às características dos adversários se sobressai de tal forma que hoje a equipe chega a ser considerada imbatível. Comparar o elenco atual àqueles considerados como a Academia do futebol, nos anos 1960 e 1970, não me parece exagero.

Naqueles idos, craques como Djalma Santos, Julinho Botelho, Dudu, Leivinha, Luis Pereira e Ademir da Guia, o “Divino”, entre tantos outros craques, foram eternizados como jogadores fora de série, profissionais que reuniam todas as características que potencializam a atividade, talento, técnica, emocional equilibrado, espírito coletivo e preparo físico. Parece redundante, mas são essas as características imprescindíveis à formação de um atleta e, por conseguinte, uma equipe, mas reuni-las em todo um elenco é tarefa para uma equipe técnica com olhar e percepção apurados. E mais, há, diretamente envolvida nesta configuração de qualidade extrema, a competência administrativa do clube.

Em torno do Palmeiras, não foram os astros cósmicos a conspiraram os resultados em campo, mas os astros envolvidos no dia a dia do clube. O treinador Abel Ferreira e sua comissão técnica encontram as dosagens exatas na composição de uma equipe equilibrada, ou seja, um time cujos setores se comunicam com precisão. Percebam.

No gol, Weverton é sinônimo de segurança, sucessivamente convocado para a seleção brasileira, vem se consagrando como um dos melhores goleiros do Brasil na última década. Na zaga, o nome do paraguaio Gustavo Gómez é inquestionável; talentoso, técnico e com faro de gol apurado quando sobe ao ataque, o craque se enquadra na galeria dos maiores que passaram pela posição. O meio de campo palmeirense é extremamente cerebral e os grandes destaques são Raphael Veiga e Dudu, jogadores que, incompreensivelmente, não são convocados por Tite para a seleção. No mesmo setor, e já convocado, Danilo, craque de apenas 21 anos, projeta um futuro para lá de promissor. Gustavo Scarpa, muito embora não seja titular absoluto no time, é um craque de bola que tem titularidade garantida em qualquer grande clube do planeta. No ataque, e não que a equipe se apegue a definições que, dia a dia, se esvaem, pois os jogadores têm funções polivalentes, Rony entrega resultados bastante satisfatórios. Auxiliando esta espinha dorsal, montando e desmontando esquemas táticos, jogadores como os laterais Marcos Rocha e Piquerez, além do meio-campista Zé Rafael e jovens talentos como Gabriel Menino e Gabriel Veron, estabelecem as fundações de um esquema flexível, portanto, variável, que garantem ao time resultados extraordinários.

No campeonato brasileiro e na Libertadores da América, as campanhas impactam cronistas e assustam os adversários. Na Libertadores, a equipe fez a melhor campanha em uma primeira fase da história da competição, foram dezoito pontos em dezoito possíveis e vinte e cinco gols assinalados; avassalador. Líder do Brasileiro, a equipe já marcou vinte e cinco gols em treze jogos e sofreu apenas oito tentos, quer dizer, melhor ataque e melhor defesa.

Na temporada 2022 já são 36 jogos: vinte e seis vitórias, sete empates e apenas três derrotas, um aproveitamento de 78,7% dos pontos. O time de Abel Ferreira já marcou setenta e quatro gols, média de 2,06 por jogo, e sofreu apenas vinte e quatro (0,58/jogo), constituindo a melhor defesa numa temporada desde 1972.

Toque de bola, talento individual, profissionalismo, engajamento, espírito coletivo, excelente preparo físico, equilíbrio emocional e disposição para a vitória. Os elementos estão postos e são estes. Encontrar as peças, trabalhá-las, reuni-las em torno de um propósito, obedecer critérios táticos e despir o jogador da vaidade tão comum no meio desportivo, são tarefas compartilhadas. Há um líder, há um timoneiro, por óbvio, contudo, a realização do intento maior depende da funcionalidade de cada um e compreender tal funcionalidade contrapõe-se à individualidade. Haverá em algum momento um esgotamento natural, mas até que isso ocorra, o Palmeira me parece sim, um time imbatível.

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