O Festival Coco de Roda Zumbi Olinda – Celebração da Consciência Negra –, promovido em parceria com o Festival Canavial, nesta sexta-feira (21), finalizou sua primeira edição com uma noite emocionante de reverência à cultura popular. A festa, promovida no Largo do Guadalupe, reuniu gente de todas as idades e de diferentes jeitos.
A primeira atração começou com a Mostra Itinerante de Cinema de Rua, Olhar do Alto, que exibiu o filme PernamCubanos, o Caribe que nos Une. A película discute identidades culturais, com ênfase na música e na religião de matriz africana em Cuba e Pernambuco através do olhar de duas artistas de cada região. “O vídeo é um intercâmbio entre Pernambuco e Cuba e o que esses dois locais têm em comum, mostra o cavalo-marinho, maracatu rural, o candomblé e os rituais cubanos. Nossa! Achei muito bom”, resumiu um dos espectadores.
A troca de conhecimento cultural continuou quando Zé de Teté subiu ao palco. O músico trabalha com cultura popular desde 1970, compôs mais de 200 músicas, se configura como um legítimo representante da Mata Norte e trouxe, de Limoeiro, e trouxe sua contribuição para o Festival Coco de Roda Zumbi Olinda. O público adorou e, a partir dali, o coco reinou.
Mãe Beth de Oxum explica que um Festival de Coco é um evento importante para que a música da cultura popular seja ouvida e fortalecida uma vez que não há apoio nas mídias tradicionais. “O Coco tem 200 a 300 anos, mas não toca nas rádios de Pernambuco. O frevo, o maracatu, o cavalo marinho, que faz uma festa de 8h, não são mostrados. Precisamos de uma mídia que gere pertencimento e identidade”, sentenciou Mãe Beth de Oxum, organizadora do Festival de Coco Zumbi Olinda.
Quando os grupos Panela de Barro, de Tracunhaém, e Coco Popular de Aliança se apresentaram já era carnaval em Olinda. As ruas do Largo do Guadalupe estavam lotadas e o que se via era uma mistura de ritmos frente ao Afoxé Babá Orixalá Funfun. As casas e as varandas foram transformadas em camarotes e espaços vips. Os dois grupos de coco marcaram presença e fizeram bonito. O público gostou e pediu bis.
A cantora Leci Brandão subiu ao palco logo após o Coco Popular de Aliança. A primeira música entoada pela cantora traduziu o espírito da noite, Kizomba – Festa da Raça. O samba-enredo da Escola de Samba da Vila Isabel, de 1888, transformou o Largo em Kizomba, batuque, canto e dança. Durante o show, Leci lembrou sambas conhecidos e fez versões, como Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga, e de Morena Tropicana, de Alceu Valença.
Era um pouco depois das 2h quando Dona Selma do Coco entoou a sua primeira gaitada e fez a plateia delirar. O povo queria ver Dona Selma, Rainha do Coco. Sua entrada ao placo foi emocionante pela força, carinho e trajetória da cantora. São 85 anos de vida e mais de 50 anos dedicados ao coco, dedicação reconhecida pelo público que esperou para vê-la. O público acompanhou em coro seu maior sucesso, A Rolinha, e ainda pediu mais. A cultura popular estava sendo reverenciada de forma visceral e carinhosa.
O Coco de Umbigada de Olinda encerrou a noite e o Festival de Coco de Roda Zumbi Olinda – Celebração da Consciência Negra. A festa já estava tomada quando Mãe de Beth de Oxum subiu ao palco, dessa vez para comandar a festa como vocalista e coqueira. A festa em Olinda durou até às 4h, no Largo, e mostrou que a cultura popular tem força para enfrentar todos os desafios e se mostrar protagonista da sua história.
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