A professora de redação e linguagens Lílian Carvalho foi uma das duas participantes de Pernambuco que tirou a nota 1000 na redação do Enem, cujos resultados foram divulgados na terça-feira (16). Ela, que é do Recife, mas atualmente mora em Carpina, na Zona da Mata Norte do Estado, criou o método batizado de “redação autoexplicativa” e diz ter comprovado a eficácia ao tirar a nota máxima na prova, que teve como tema no ano passado “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Em Pernambuco, dois participantes alcançaram 1000 na redação — além de Lílian, o estudante Igor Kleyverson da Silva, de 23 anos, natural de Escada, na Zona da Mata Sul do Estado. No Brasil, foram 60 notas máximas, das quais 25 saíram do Nordeste.
Em conversa com a Folha de Pernambuco, a professora disse que o método consiste em explicar a redação por si só. Essa, inclusive, não foi a primeira nota 1000 na redação do Enem de Lílian. Ela alcançou a nota máxima ao fazer a prova em 2011, antes de cursar Letras na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Desde muito cedo, eu comecei a dar aula e eu comecei no cursinho Fernandinho Beltrão, no Recife. Lá eu trabalhei como monitora de redação. Então, assim, no meu primeiro período da faculdade, eu já estava trabalhando com a redação do Enem. E aí eu fui entendendo melhor como é que funcionava, eu fui criando a bagagem, fui vendo as notas dos alunos, o que dava certo nas redações”, diz Lílian.
Lílian tem um cursinho on-line, no qual faz acompanhamento personalizado de seus alunos. Ela conta, por exemplo, que, nas correções dos textos, usa uma cor diferente para cada competência da redação do Enem, o que ajuda o estudante a perceber os pontos em que precisa melhorar. Todos os alunos que a professora acompanhou no ano passado tiraram mais de 900 na prova.
“Comecei a observar o que dava certo. Ano passado, eu tive uma aluna da minha monitoria que também tirou 1000, que foi Carina. Eu decidi testar pra mostrar que o método realmente funciona, que é o que eu chamo de método da redação autoexplicativa. A sua redação tem que ser uma redação que ela se explica por si só, você não pode depender do conhecimento do corretor e tem que ser uma redação que qualquer pessoa, mesmo o mais leigo sobre o assunto, vai entender tudo o que você está querendo dizer”, completa.
A professora afirma ainda que o repertório sociocultural, contexto que deve ser usado na prova e atende à competência 2 da redação, deve ser claro. “Tem que ser um repertório que deixe claro mesmo para quem nunca tenha ouvido falar desse repertório”, acrescenta. Os participantes podem usar itens como citações de autores, obras, frases, fatos, conceitos, livros, filmes e notícias.
“Eu criei um passo a passo em cada parte, um passo a passo na introdução, um passo a passo no desenvolvimento, um passo a passo na conclusão para conseguir realmente fazer com que o aluno tenha a melhor nota”, acrescenta Lílian, que diz ter ido à prova apenas no primeiro dia. “Eu queria mostrar que ele funciona”, arremata.
Os estudantes que foram acompanhados por Lílian no ano passado estão felizes com suas notas acimas de 900. “A gente tem várias histórias. Tem um aluna que ela estava fazendo um cursinho há muito tempo, passou dois anos num cursinho grande do Recife, era muito bem avaliada, só tirava 900+, até 1000 ela tirava, e sempre que ela chegava no Enem levava a pau. Era abaixo de 900, era 860, era 840. Ela até ficava abaixo. E aí ela veio me procurar muito decepcionada”, cita Lílian, dizendo que, este ano, com o método da redação autoexplicativa, essa aluna tirou 940.
Dicas
“Não é mágica, tem muito aluno que quer o caminho fácil, quer a fórmula pronta. [A redação] exige do aluno a dedicação de escrever, precisa realmente ter o foco, ter a perseverança para corrigir os erros”, fala Lílian sobre dicas para o estudante que se prepara para as próximas redações do Enem. “Para você chegar onde você quer, você precisa se esforçar”, completa.
Lílian também defende uma mudança no processo de correção das provas de redação do Enem. Ela divide os corretores em duas partes: os de “mão leve” e os de “mão pesada”. “Eu não acho que seja justo, tem alunos excelentes que mereciam 1000 e não tiram. Fica à sorte do aluno, pro isso que eu preparo o aluno para o corretor de mão mais pesada. Fica muito subjetivo, tem corretores que vão dar uma nota, outros que vão dar outra”, critica a professora, que completa: “Eu não acho que a avaliação do Enem avalia a capacidade do aluno, fica uma coisa muito mecanizada. Se eu pudesse mudar esse sistema de avaliação, eu mudaria”.
Futuro
Diante da repercussão da nota 1000, Lílian ainda planeja como deve ser a preparação para a redação deste ano. Ela irá abrir as vagas para o curso na próxima semana.
“Como eu ofereço acompanhamento personalizado, não posso pegar uma quantidade muito grande de alunos, porque eu quero acompanhar de perto. Estou querendo avaliar como vou fazer, não sei se vou abrir presencial”, completa a professora, que mantém uma página no Instagram em que divulga as inscrições e outros temas relacionados à redação do Enem e à prova como um todo.
Folha de Pernambuco
1 comentários
Parabéns Professora por sua dedicação e por conseguir um método que vai ajudar os estudantes