Pela primeira vez na história da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco (FETAPE) uma mulher é eleita para assumir sua presidência. E na noite desta quarta-feira (05), a sertaneja, agricultora familiar e assentada da reforma agrária, Cícera Nunes, recebeu essa missão, tomando posse juntamente com os/as demais diretores e diretoras, suplentes e integrantes do Conselho Fiscal da gestão 2018/2022. Mais de 500 pessoas prestigiaram a cerimônia, entre lideranças do Movimento Sindical do campo e da cidade, autoridades e parceiros.
“Muitas mulheres, em centenas de anos, lutaram para que eu e muitas outras chegassem onde chegamos. No 10º Congresso Estadual dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares, com uma chapa de unidade, os sindicatos me elegeram a primeira mulher presidente da FETAPE. Isso tem um valor enorme e simboliza algo muito importante para mulheres trabalhadoras rurais e urbanas. Mulheres que lutam e que reconhecem que lugar de mulher é onde ela quiser. Mas também para muitos homens, que têm contribuído, ao longo da história de 56 anos da FETAPE, para que a caminhada aconteça de forma conjunta”, disse Cícera Nunes, em pronunciamento ao assumir presidência da FETAPE.
O encontro começou com uma mística que reforçou a importância das mulheres em diversas lutas no país e homenageou nomes como Dandara dos Palmares, Margarida Alves, Vanete Almeida, Maria da Penha, a ex-presidenta Dilma Roussef, entre outras. Mulheres que lutaram pela liberdade de seus povos, pela garantia de direitos de outras mulheres, pelo fortalecimento do sindicalismo, pelo fim da violência contra as mulheres e pela democracia.
“Tenho muito orgulho de finalizar esse mandato e ter a certeza de que o que fizemos nesses quatro anos foi com muita responsabilidade. Dos 56 anos da FETAPE, esses últimos quatro foram muito desafiadores. Desde a seca que passamos, o retrocesso político, o embate que fizemos em não aceitar a retirada de direitos, o enfrentamento ao golpe institucionalizado. Essa federação, com os sindicatos e os parceiros, não se furtou a estar na trincheira de luta noites e dias para que não permitíssemos retrocessos”, pontuou Paulo Roberto, até então presidente em exercício da FETAPE e eleito diretor de finanças e administração nesta nova gestão.
As falas de diretores/as e parceiros/as reforçaram o significado da renovação da gestão da FETAPE, mas, principalmente o fato histórico de que uma mulher assume a presidência, numa composição com paridade de gênero na nova Diretoria, com suas suplências e o conselho fiscal. “Neste momento, desejo muita esperança para essa nova diretoria e também para todos nós. Para que sigamos juntos sempre”, ressaltou Socorro Silva, educadora e viúva do ex-deputado estadual, que também foi presidente da FETAPE, Manoel Santos.
Aristides Veras, presidente da Confederação Nacional da Agricultura Familiar (CONTAG), empossou a nova diretoria, cuja formação contempla os públicos priorizados pela FETAPE, como mulheres, jovens e idosos, também as bandeiras de luta da Federação, formação e organização, meio ambiente, política agrícola e agrária, além da presidência, vice-presidência e finanças e administração. Em vídeo, a vice-presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores/as (CUT), Carmem Foro, destacou o histórico de Cícera Nunes, como fruto de toda a luta histórica das mulheres e dos homens do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
Durante seu pronunciamento, Cícera Nunes também destacou desafios que ela e a nova diretoria, que iniciam a gestão, terão que enfrentar na construção de uma sociedade justa, sem machismo, sem patriarcado, sem racismo e sem exploração de classe. Colocou, ainda, o compromisso da FETAPE com o projeto de convivência com o Semiárido, com o trabalho para a reestruturação da Zona da Mata, com o investimento na agroecologia, e o fortalecimento e ampliação da rede de parceiros. “Fazemos votos de que esta gestão contribua para consolidar a união e venha a fortalecer as conquistas de uma vida digna para trabalhadores e trabalhadoras rurais”, afirmou.