Morre, aos 84 anos, o ator José Pimentel, conhecido por interpretar Jesus na Paixão de Cristo do Recife. Ele passou o aniversário de 84 anos, no último dia 11, internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Esperança, no bairro da Ilha do Leite, área central do Recife. Boa parte dessas mais de oito décadas de vida foi dedicada às artes cênicas.
O ator foi internado na semana passada, após chegar de Serra Talhada, no Sertão, onde dirigia o espetáculo “O Massacre de Angico – A Morte de Lampião”. A princípio, foi detectada uma obstrução no fígado, mas o caso se agravou devido a uma série de problemas de saúde. Notícia do falecimento foi anunciada nas redes sociais pela filha do ator, Lilian Pimentel, às 9h32. “Gente, meu painho, o amor da minha vida, acaba de nos deixar. Painho Faleceu. Ele agora está com Deus. Eu queria dar essa notícia a vocês, que sempre estiveram com a gente”, compartilhou, em sua página no Facebook.
Nascido em Garanhuns, desde a década de 1950, encenou, dirigiu e escreveu diferentes espetáculos teatrais. Mas seu trabalho mais reconhecido, que o transformou em figura folclórica do imaginário popular pernambucano, foi mesmo como Jesus Cristo, papel que interpretou durante 39 anos.
Em 1956, Pimentel foi levado por um amigo – Octávio Catanho – a participar dos espetáculos da Paixão de Cristo, em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus. Começou em pequenos papéis e acabou promovido a diretor da montagem em 1969. Com a saída do ator Carlos Reis, em 1978, interpretou o papel do filho de Deus pela primeira vez.
Desentendimentos com os produtores de Nova Jerusalém fizerem Pimentel deixar o espetáculo em 1996, mas não o papel. No ano seguinte, estreou a Paixão de Cristo do Recife, que começou no Estádio do Arruda, sendo transferido para o Marco Zero em 2001.
A última vez que o público viu Pimentel em seu personagem mais icônico foi em 2017. Na ocasião, ele resolveu subir ao palco mesmo após passar por uma cirurgia de hérnia inguinal e chegar a ficar na UTI. A saúde debilitada, no entanto, o fez “dar o braço a torcer” e passar o papel para um ator mais jovem.
A temporada 2018 da Paixão de Cristo do Recife chegou a ser cancelada, por falta de recursos. A produção voltou atrás e, pela primeira vez, a peça foi apresentada sem seu idealizador em cena.
O espetáculo de Páscoa, no entanto, não é a única obra de destaque no currículo de Pimentel. Junto ao Teatro Adolescente do Recife (TAR), em 1956, ele integrou o elenco da primeira montagem de “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, que obteve reconhecimento nacional.
Como diretor e dramaturgo, produziu muitas peças sobre personagens e acontecimentos históricos, como “A batalha dos Guararapes”, “O calvário de Frei Caneca” e “O massacre de Angico – A morte de Lampião”, seu último trabalho realizado.
A televisão também esteve na trajetória deste pernambucano. Ele esteve no elenco de “A moça do sobrado grande”, telenovela de sucesso produzida pela TV Jornal, em 1967, e que chegou a ser exibida em São Paulo. Na década de 1970, em plena ditadura militar, na mesma emissora. No início deste ano, a história de Pimentel foi contada na biografia “José Pimentel – Para além das paixões”, publicada pela Cepe Editora e escrita pelo jornalista pernambucano Cleodon Coelho.
Folha de Pernambuco