A música do frevo, nascida nos becos, ladeiras, ruas e áreas rurais de Pernambuco, carrega em suas notas a resistência e a ancestralidade da cultura afro-brasileira. Essa conexão histórica fortalece nossos terreiros de quilombos, espaços que simbolizam a luta, a preservação das tradições e a celebração da identidade negra. Com essa proposta de diálogo entre as raízes culturais, a Orquestra de Frevo Revoltosa, coordenada pela Sociedade Musical 05 de Novembro, de Nazaré da Mata, que é Ponto de Cultura e Patrimônio Vivo do Estado, realiza, neste sábado (30), às 15h, um projeto de intercâmbio musical no Quilombo de São Lourenço, em Goiana, na Mata Norte de Pernambuco. O evento contará com tradução em libras.
Além de valorizar as tradições quilombolas, o projeto presta uma homenagem ao maestro José Menezes, natural de Nazaré da Mata e uma das figuras mais importantes do frevo de rua no País. Menezes iniciou sua trajetória musical na Revoltosa, ainda na adolescência, e permaneceu até os 19 anos. De lá, seguiu para o Recife, onde consolidou uma carreira de destaque no gênero no mundo. Caso estivesse vivo, o maestro, que faleceu em novembro de 2013, teria completado 101 anos em 2024. Ele foi o terceiro compositor mais gravado de Pernambuco, ficando atrás apenas de Capiba e Nelson Ferreira.
No repertório musical, a orquestra executará mais de 30 composições de Menezes, como Frevo da Lira e Evocação Número 3 , celebrando sua dedicação à música e sua contribuição ao frevo. Há, ainda, outros clássicos de sua autoria, a exemplo do Freio a óleo (1950), Boneca (1953), Terceiro dia (1960), Tá faltando alguém (1961), entre outros. Sendo o mais recente o frevo Bico doce, campeão do VIII Recifrevo, em 1996. A ligação entre Menezes e a Revoltosa também é familiar: seu pai presidiu a Sociedade Musical 5 de Novembro, consolidando um legado de valorização da cultura local que agora se perpetua pela nova geração de músicos.
A Orquestra de Frevo Revoltosa é composta por, aproximadamente, 14 jovens da periferia de Nazaré da Mata, que encontram na música uma ferramenta de transformação social e de capacitação técnica. “Este projeto vai além de uma apresentação; é um reencontro do frevo com suas origens afrodescendentes, em espaços que simbolizam resistência e ancestralidade. É também uma oportunidade de celebrar o legado do Maestro José Menezes e a força da juventude que preserva e renova o legado do frevo”, afirmou o músico, idealizador e maestro do projeto, professor Severino Belarmino, conhecido como Maestro Sapatão.
O projeto, realizado com incentivo da Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura, também vai ganhar uma versão audiovisual, será disponibilizada no canal do Youtube da Revoltosa. Em dezembro, será realizada apresentação na Associação Quilombola dos Produtores Rurais do Território de Inhanhum, em Santa Maria da Boa Vista. Já no mês de janeiro, a programação acontecerá na sede da Associação Quilombola Leitão da Carapuça, em Afogados da Ingazeira.