
A instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Alepe para apurar indícios de irregularidades em contratos de publicidade do Governo de Pernambuco voltou ao centro do debate na reunião plenária desta segunda (11). Autora do requerimento que criou o colegiado, a deputada Dani Portela (PSOL) acrescentou elementos ao caso, alegou ser alvo de denúncias anônimas para prejudicar a atuação legislativa e relatou ameaças nas redes sociais.
A psolista apontou diversas falhas na licitação que resultou em um contrato no valor de R$ 120 milhões por ano com a empresa E3 Comunicação Integrada Ltda e outras três agências, ao longo de uma década. Também detalhou a relação de uma das vencedoras da concorrências com Waldemiro Ferreira Teixeira, conhecido como “Dódi”, primo da governadora. “A funcionária que foi gerente da empresa de Dódi por 16 anos tornou-se diretora da E3 em Pernambuco. É coincidência?”, indagou.

“Este é um poder fiscalizador, e desde o dia que eu apresentei a CPI, venho sofrendo ataques. Hoje fui interpelada criminalmente pelo próprio Dódi. Isso fere a autonomia desta Casa Legislativa, pois eu não ofendi a honra e a moral dele, eu trouxe uma denúncia com fatos comprobatórios.”
Novos indícios
Dani Portela anunciou que apresentará uma nova denúncia referente à comunicação do Governo: a suspeita de ação coordenada de mais de 300 perfis nas redes sociais para atacar instituições públicas estaduais – como a Alepe, o Tribunal de Contas (TCE-PE) e o Tribunal de Justiça (TJPE) – e parlamentares de oposição. De acordo com ela, constam no Portal da Transparência repasses do Executivo para algumas dessas contas, as quais teriam feito postagens em colaboração com órgãos públicos. “Foram mais de 30 contas desativadas e outras dez que mudaram de nome desde que saiu a notícia da CPI até agora”, contabilizou.
A deputada repudiou denúncia anônima enviada aos gabinetes parlamentares e ao Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPC-PE) acusando o gabinete dela de ter contratado uma empresa de publicidade fantasma utilizando verbas indenizatórias. O assunto foi disseminado nesta manhã, enquanto ela participava de debate em uma rádio local, no que Portela considerou como sendo “publicações orquestradas” em blogs para prejudicar a imagem e a honra dela.
Por fim, a psolista frisou que a CPI não tem motivação pessoal e que ela tampouco se opõe à publicidade institucional: “Eu defendo a comunicação pública, a propaganda para chamar os alunos para creche, para campanha de vacinação, para mostrar como é bonito o nosso estado. O que não pode é uso político de uma verba pública. É isso que a comissão quer olhar, de onde estão partindo esses ataques coordenados e com qual recurso eles foram pagos”, explicou. Portela reforçou que não irá recuar diante dos ataques e chamou o colegiado de “CPI do bilhão”.
Solidariedade
A psolista recebeu manifestações de solidariedade dos parlamentares que a sucederam na tribuna durante o Pequeno Expediente, entre os quais o deputado Izaías Régis (PSDB). Ele defendeu, porém, a gestão da governadora Raquel Lyra, ressaltando feitos como a recuperação de estradas e os mais de mil atendimentos de mamografia realizados por meio da Carreta da Saúde da Mulher Pernambucana em Garanhuns, no Agreste Meridional, na última semana.
“Mesmo com todo esse sofrimento de perseguição que ela tem sofrido, não poderíamos deixar de fazer elogios ao trabalho, à dignidade e à procedência da governadora. É uma mulher que merece o respeito de toda a população de Pernambuco”, afirmou Régis.
Já Renato Antunes (PL) classificou como “covardes” as denúncias anônimas contra Dani Portela, reiterando, porém, que discorda da criação do colegiado. Para ele, “uma CPI às vésperas de um ano eleitoral nada mais é do que uma tentativa desesperada de travar um governo que quer entregar para Pernambuco”.
O presidente da Comissão de Educação também criticou a ausência de convite aos legisladores estaduais para participar do seminário sobre o Plano Nacional de Educação (PNE), promovido na Alepe pelos deputados federais Pedro Campos (PSB-PE) e Tábata Amaral (PSB-SP), no último dia 4 de agosto. Ele considerou que a atitude foi desrespeitosa e impediu uma discussão plural sobre o tema: “Pernambuco não pode ser tratado como quintal da burocracia de Brasília”, reclamou.
Violência de gênero
Também Antônio Moraes (PP) apoiou a colega e demonstrou insatisfação, alegando que “qualquer coisa que acontece é culpa da governadora”. Ele declarou não acreditar nas denúncias e apontou preconceito nas críticas direcionadas a Raquel Lyra. “Nenhum governador na história de Pernambuco sofreu uma perseguição igual”, observou. “O governo não tem receio de CPI. Tudo o que for colocado vai ser derrubado, porque a coisa foi feita de maneira correta”, complementou o progressista.
Por fim, Simone Santana (PSB) ressaltou a questão de gênero nos ataques a Portela. “É sempre muito difícil a nossa posição enquanto mulher. Quando é contra nós, as agressões tomam outro tom”, lamentou. A socialista ainda repercutiu o vídeo publicado pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, o “Felca”, criticando a “adultização” de crianças e adolescentes nas redes sociais.
“Ele mostrou de forma direta como a hiper-exposição abre espaço para algo ainda mais grave: a pedofilia. Conteúdos aparentemente inocentes, quando acessados por pessoas mal intencionadas, são explorados, manipulados e compartilhados em redes criminosas”, observou. Autora da proposta que cria uma política para reduzir a exposição digital e promover o contato com a natureza na infância ( Projeto de Lei nº 3036/2025), Santana pediu celeridade na votação.