
A denúncia sobre uma suposta rede de blogs e perfis em redes sociais que estariam agindo de forma articulada para difamar parlamentares e instituições – alvo de CPI criada na Alepe – foi reforçada nesta quarta (20). Em discurso na reunião plenária, o presidente da Casa, deputado Álvaro Porto (PSDB), ocupou a tribuna parlamentar para revelar uma investigação que aponta o secretário-executivo de Informações Estratégicas do Governo de Pernambuco, Manoel Pires Medeiros Neto, como o autor de ataques contra a deputada Dani Portela (PSOL).
A apuração foi realizada pela Superintendência de Inteligência (Suint) da Casa. Segundo a apuração, no dia 9 de agosto, o servidor comissionado teria utilizado uma lan house em um shopping no Recife para preparar um pen drive com o material contra a parlamentar. A documentação obtida na investigação será disponibilizada para a comissão parlamentar de inquérito (CPI) instalada na Alepe, o conjunto de deputados, a imprensa e a Justiça.
“Estamos tratando de fatos e de um acervo probatório contundente. A Suint obteve imagens do assessor da governadora em ação na sua prática delituosa às custas do tesouro estadual. Reuniu também informações do computador usado por ele, o que confirma de onde partiu a denúncia contra a deputada Dani Portela”, afirmou Porto.
O parlamentar ressaltou que o servidor foi citado em denúncia apresentada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na semana passada. O documento aponta que Manoel Medeiros Neto e uma prima que é advogada teriam obtido informações por meio de acessos irregulares a processos do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região.
“Ele, por sua vez, estaria usando as informações para atacar opositores do Governo nas redes sociais e através de blogs próximos do Palácio do Campo das Princesas”, concluiu o presidente, que se referiu à ação como “milícia digital” e “gabinete do ódio”. Para ele, a denúncia contra Dani Portela foi uma “clara tentativa de desmoralizar a parlamentar”, que é autora do requerimento que criou a CPI que investigará contratos de publicidade do Governo.
Porto ainda frisou que o servidor “goza da inteira confiança da governadora Raquel Lyra”, tendo-a conhecido por intermédio da vice-governadora Priscila Krause, de quem foi assessor entre 2011 e 2022, quando ela exerceu mandatos de vereadora do Recife e deputada estadual. Além de secretário-executivo, atualmente Manoel Medeiros Neto é conselheiro da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e da Agência de Empreendedorismo estadual.
“Todo o poder do assessor, somado à sua proximidade com a governadora e a sua vice, tornam esta denúncia ainda mais grave. Afinal, se elas vêm se valendo de um servidor público para tentar coagir ou constranger uma deputada estadual no cumprimento da sua função fiscalizadora, trata-se de situação absurda e alarmante”, prosseguiu o parlamentar do PSDB, para quem ação “fere de morte” os preceitos fundamentais da Constituição.
“Estou aqui para expressar toda nossa indignação e o mais veemente repúdio desta Casa diante da criação desta rede paga com dinheiro público para difamar, desonrar e caluniar deputados, Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça e outros segmentos da sociedade”, discursou o deputado. “Reafirmo, mais uma vez, meu compromisso inabalável de defender a nossa instituição e atividade de todos parlamentares.”
Repercussão
Em aparte, Dani Portela detalhou os impactos que a denúncia anônima disseminada em blogs e redes sociais teve sobre a carreira política e a vida pessoal dela e de sua família. “Ele expôs a imagem dos meus enteados, uma criança com sete anos à época e outra com nove, e da minha filha, que então também era menor de idade, sem nem o cuidado de borrar. E eles foram reconhecidos a partir daquela foto.”
Além disso, o conteúdo da denúncia teria sido enviado por e-mail a todos os gabinetes parlamentares da Alepe e disparado massivamente por contas de um aplicativo de mensagem. “A partir daí, o meu número pessoal de telefone foi exposto, e com isso veio uma onda de ódio, de xingamentos, de ameaças”, relatou. “Eu cheguei a ouvir se ‘não tinha medo de amanhecer com boca cheia de formigas’.”
A deputada do PSOL se emocionou ao clamar por “justiça”. “Eu não admito que o jogo sujo da política venha ferir não só a minha honra, mas a nossa. Esse não é um problema de oposição e situação. Eu peço não só solidariedade, mas o compromisso coletivo com a verdade”, disse. Ela anunciou que vai procurar o delegado-geral da Polícia Civil para entrar com uma notícia-crime: “O que foi feito contra mim foi uma prevaricação vinda de um funcionário público”, pontuou.

Apartes
Para o deputado Waldemar Borges (MDB) trata-se de um retrocesso civilizatório o que está acontecendo no Estado. O parlamentar se disse estarrecido com as provas apresentadas pelo presidente da Alepe. “Esse secretário-executivo do Governo comanda uma grande rede. Ele formula, fornece estratégia e até redige textos que são jogados na internet com objetivo de ofender as pessoas e atingir a honra de maneira absurdamente criminosa”.
O deputado Wanderson Florêncio (Solidariedade) defendeu a governadora, enfatizando a sua honestidade, e afirmou que ela será a primeira pessoa a tomar providências se os fatos forem comprovados. Por outro lado, o parlamentar destacou que a gestora não vai entrar no que ele chamou de “jogo partidário”. “Que a CPI possa de fato investigar, se posicionar e esclarecer todas as dúvidas. O que não pode é existir uma CPI apenas para atacar. O que o PSB fez aqui na última semana é de se escandalizar, deputados históricos saindo do partido para se tornar prepostos em outras siglas. O que ocorreu transformou a política do Estado em algo menor, só para ter controle da CPI e atingir a imagem da governadora”, enfatizou.

Para Diogo Moraes (PSDB), todas as evidências apresentadas deixam clara a necessidade da CPI. O parlamentar acrescentou que os ataques contra a Dani Portela foram feitos de forma covarde e que a situação pode se repetir com qualquer outro deputado. Para ele, usar a CPI e as mudanças partidárias nesse momento é criar uma distração. “Estão querendo misturar as coisas, falando da formação da CPI, de movimentos partidários, uma coisa que nada a ver com a outra. O que está em pauta aqui é o discurso do nosso presidente, que está denunciando um ato covarde contra uma grande deputada”, enfatizou.
A deputada Socorro Pimentel (União), abraçada à colega Dani Portela, declarou solidariedade a ela, mas afirmou que toda ligação do caso ao gabinete da governadora Raquel Lyra será refutada. “A dor nos une, a gente talvez possa sentir a dor que a governadora também sente com todos os ataques que ela está recebendo por parte desta Casa. Eu venho falando desse clima hostil, de tudo que a gente vem passando e do meu medo do que possa acontecer com a aproximação ou antecipação do clima eleitoral”, declarou a líder do governo na Casa.
Também se pronunciaram no microfone de apartes os deputados Renato Antunes (PL), Joãozinho Tenório (PRD), Rodrigo Farias (PSB), Cayo Albino (PSB), João Paulo (PT), Rosa Amorim (PT), Izaías Régis (PSDB), Luciano Duque (Solidariedade), Edson Vieira (União), Coronel Alberto Feitosa (PL), Mário Ricardo (Republicanos), Doriel Barros (PT), Henrique Queiroz Filho (PP), Joaquim Lira (PV), João de Nadegi (PV), Gilmar Júnior (PV) e Francismar Pontes (PSB).