O governo brasileiro planeja transferir cinco peixes-bois-marinhos, mantidos em cativeiro no Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA), em Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife, para o Arquipélago de Guadalupe, território francês no Caribe, ainda este mês. Os animais Netuno, Xuxa, Sereia, Marbela e Toquinho participarão de uma experiência científica voltada para a reintrodução da espécie naquele país, cuja população foi extinta há mais de cem anos.
A decisão, fruto de um acordo com o governo francês, gerou grande repercussão entre pesquisadores voltados à conservação dos peixes-bois-marinhos no País. Instituições ligadas a esses profissionais tem agido judicialmente para impedir a retirada dos animais do território brasileiro.
O biólogo João Carlos Borges, presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), informou que, desde agosto do ano passado, cientistas tentam dialogar com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sem sucesso. “Enviamos uma carta em conjunto para os órgãos competentes e não recebemos resposta alguma. Então, recorremos ao Ministério Público Federal (MPF). O MPF entendeu como legal o projeto do governo, mas levantou uma série de questões sobre o risco de vida destes animais, se forem transferidos”, afirmou o biólogo.
Borges explicou que a saúde e sobrevivência dos animais são as maiores preocupações dos pesquisadores. “Além disso, a linhagem é diferente. Os peixes-bois, naturais do Oceano Atlântico Sul, podem se locomover e se reproduzir com animais de outras ilhas caribenhas. Isso pode gerar um problema genético grave”, argumentou.
Além da Fundação Mamíferos Aquáticos, a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a Associação Amigos do Peixe-Boi (AMPA), o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos (CPPMA) declararam estar em alerta com a entrega dos sirênios.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, declarou que os animais e seus descendentes continuarão sob a tutela do governo brasileiro e, se necessário, poderão retornar ao país. “Espero que todos contribuam com a campanha”, disse. De acordo com o MMA, os animais selecionados para o repovoamento em Guadalupe estão em fase final de avaliação clínica. O órgão garantiu a preservação da integridade física e da saúde deles.