Bloco Rural Caravana Andaluza, de Tracunhaém, lança livro no domingo de Carnaval

Publicação faz parte das comemorações de 60 anos da agremiação, e marca a abertura do ciclo de apresentações carnavalescos 2023

Por Rafael Santos 16/02/2023 12:40 • Atualizado 16/02/2023
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Após dois anos sem desfilar, em virtudes da pandemia de covid-19, o Bloco Rural Caravana Andaluza do Engenho Abreus, da cidade de Tracunhaém, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, está de volta à folia momesca. A agremiação, que tem cerca de 60 componentes, segue em ritmo acelerado para fazer bonito no Carnaval, do interior à capital. Na sede do grupo, que também é Ponto de Cultura, brincantes, voluntários e diretoria do bloco se revezam na confecção dos figurinos. Enquanto isso, os músicos afinam os instrumentos. Para não perder tempo, crianças, adolescentes, jovens e adultos, se animam fazendo os passos que vão embalar os dias de animação. Tudo feito com muito amor, paixão e alegria. 

Toda essa animação também faz parte da festividade de 60 anos do grupo, que será celebrada com lançamento do primeiro livro, que tem por título: ‘Bloco Rural Caravana Andaluza do Engenhos Abreus’. O evento acontece neste domingo de carnaval, às 10h, na sede do bloco, rua Presidente Castelo Branco, nº 64, centro de Tracunhaém. Durante o encontro, haverá roda de diálogo com autor e sessão de autógrafos.  Por fim, será realizado um cortejo especial pelas ruas e avenidas da cidade com o Bloco Rural Andaluza, que marcará o pontapé da folia momesca deste ano. A iniciativa é aberta ao público. O projeto conta com incentivo do Governo do Estado, Secretaria de Cultura e Fundarpe, por meio dos recursos do Funcultura.

O livro, na versão impressa, ebook e audiobook, é de autoria do doutor em história e  professor da UFPE, Severino Vicente. A obra reúne textos, fotos e registros inéditos do Bloco Andaluza. O título, distribuído em 85 páginas, teve a produção de Valdilene Francisca de Souza. Já o projeto visual, foi assinado pelo artista Afonso Oliveira.  Também integram a produção do exemplar, o produtor cultural, Gilson Xavier, com revisão de Alice Moreira de Melo. As fotografias são de autoria de Pedro Raiz, Gilson Xavier; e do Arquivo Andaluza e Severino Vicente da Silva. O prefácio é assinado pela jornalista, Cleide Alves. A versão audiobook tem a voz de Sérgio Gusmão.

AGENDA CARNAVAL –

Ainda no domingo (19), o Bloco Rural Caravana Andaluza, do Engenho Abreus, vai circular por vários polos de carnaval na região da Zona da Mata Norte. No turno da tarde, o grupo se apresenta nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência e Ferreiros. Já no turno da noite, será a vez da cidade de Carpina receber a agremiação.

SOBRE O BLOCO ANDALUZA

O Bloco Rural Caravana Andaluza nasceu em  03 de setembro de 1963. À época, o jovem José Joaquim Luiz Filho conhecido por Deca Emiliano, que vivia no Engenho Abreus, Zona Rural de Tracunhaém, no auge dos seus 18 anos, uniu-se ao amigo Luiz Francisco de Souza (Luiz Maquinista), e acharam por bem de criar uma Caravana (Bloco Rural) para que os jovens, que faziam o plantio, a limpar, o corte e transporte da cana até as usinas, assim como eles, pudessem se divertir pelos os engenhos durante o Carnaval. A graça da folia é que tudo acontecia em formato de cortejo, com pés no chão, e levantando poeira por onde passava. Juridicamente, nesta data, 03/09/1963, houve a primeira assembleia geral de formação do grupo. Na época, teve como diretor e primeiro presidente,  Luiz Maquinista. Além dele, também lideraram o folguedo o vice-presidente, Deca Emiliano, ambos fundadores do Bloco Rural Caravana Andaluza.

A ideia que virou bloco de Carnaval, em meio aos canaviais, deu tão certo, que em 2023, celebra seis décadas de história e legado cultural. Atualmente, o grupo está na quarta geração de brincantes. Com a morte do  Luiz Maquinista, em 2002, a brincadeira foi repassada para ser administrada por um dos seus filhos, Gildo Francisco de Souza (Gildo do Sindicato), trabalhador rural, de 69 anos.   Além dele, o folguedo popular reúne outros irmãos, filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, noras e primos. Verdadeiros apaixonados pela brincadeira de carnaval mais antiga na cidade de Tracunhaém. 

O Bloco Rural Andaluza se destaca por uma apresentação que reúne importantes personagens, que desfilam pelos engenhos, bairros e polos culturais da cidade e do estado, imprimindo, por onde passa, toda a sinergia do Carnaval de antigamente. O grupo é formado por duas filas – uma do lado esquerdo e outra do lado direito. Todas vestindo vermelho. Em cada uma delas há, pelo menos, 12 meninas, que são chamadas de ciganas ou folgazonas. Na apresentação, elas se misturam fazendo seus movimentos e evoluções, com sorrisos estampados de alegria no rosto, trazendo para o centro da apresentação, toda beleza, feminilidade e expressão da mulher negra, canavieira e pernambucana. 

Ainda no centro do grupo, um porta estandarte, confeccionado à mão, em tecido e veludo, adornado por lantejoulas e miçangas, é erguido por um bandeirista, que também dança conforme a evolução. Demarcando, naquele espaço, que o Andaluza é bloco forte e que tem muita história Toda essa performance é puxada por um mestre que recita versos de improviso, com base em fatos do cotidiano, reforçando pautas e mensagens importantes, como enfrentamento à violência contra mulher, racismo, intolerância religiosa, entre outros. Uma mistura que une palavras, experiências e a força da literatura popular. Tudo isso acompanhado pelo contramestre e equipe habilidosa nos instrumentos de sopro e percussão (terno ou orquestra de frevo rural). 

Logo à frente, a dama de paço, que carrega em suas mãos, uma linda boneca, na cor preta, condicionada em tecido e algodão, é tida como uma figura mística, e que dentro das tradições, contém a essência e espiritualidade da brincadeira. Sendo ela a responsável por carregá-la durante todas as apresentações. Inclusive, ela é a única desfilante que tem a permissão de tocar a boneca, abrindo caminhos e abençoando o cortejo.

Já a parte do abre-alas é puxada por uma catita ( homem vestido de mulher, com roupas coloridas) e uma burra ( boneco de madeira feito em madeira de mulungu, adornado por um balaio, e colorido por tecido de chita, de rosto enegrecido, e com um chicote em mãos) abre os caminhos para o bloco rural passar. Além deles, há ainda, os Balizeiros (folgazões), que fazem uma linha de frente com suas roupas bordadas em tecido, com cores vibrantes, que remetem à lembrança da figura do caboclo de lança, pois seus adereços, como a gola e chapéu, expõe cores que trazem toda beleza inspirado na natureza e no cenário da Zona da Mata.

É neste universo que mistura arte, cultura e ancestralidade, que o Bloco Rural Andaluza do Engenho Abreus de Tracunhaém, se programa para festejar o carnaval pernambucano. 

A cultura dos blocos rurais existe desde a década de 60. Tendo uma alta nos números de agremiações em 1990. Praticamente todos os engenhos da Mata Norte tinham um grupo para chamar de seu. Em meio a falta de apoio e incentivo, muitos deles acabaram se desfazendo. Atualmente, na Mata Norte, há pelo menos quatro deles, sendo o Bloco Rural Caravana Andaluza do Engenho Abreus, de Tracunhaém, o mais antigo em atividade. Há, ainda, o Bloco Rural Boneca Janaina da Alegria, que pertence ao Engenho Serra de Chã de Alegria, o Bloco Rural Estrelinha da cidade de Nazaré da Mata.

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