Morre Mestre Zé Duda, o peito de aço da poesia e da cultura popular em Pernambuco

Velório e sepultamento do artista devem ser realizados nesta quinta-feira (1º) de junho

Por Rafael Santos 31/05/2023 16:57 • Atualizado 31/05/2023
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A cultura popular em Pernambuco está de luto. José Bernardo Pessoa, conhecido como Mestre Zé Duda, o peito de aço da poesia e da cultura popular, faleceu aos 84 anos. A morte foi confirmada na tarde desta quarta-feira, 31 de maio, pelo Hospital Regional Ermírio Coutinho, em Nazaré da Mata, localizado na Zona da Mata Norte do Estado, onde o artista estava internado. O velório e sepultamento do artista devem ser realizados nesta quinta-feira (1º) de junho, na cidade de Goiana. O local e horário ainda não foram confirmados pela família. Mestre Zé Duda era casado com a Mestra de Maracatu Gil, do Maracatu Feminino Coração Nazareno. Ele deixa esposa, três filhos, onze netos, doze bisnetos e um tataraneto.

Ao longo de 65 anos de carreira, Mestre Zé Duda dedicou-se à poesia de improviso, como Mestre de Maracatu Rural – manifestação centenária Patrimônio Cultural do Brasil, ocupando palcos dos festivais, carnavais, e turnês nacionais e internacionais, propagando a força da cultura popular. “ A morte de Zé Duda deixará uma lacuna profunda em nossas memórias. Ele foi um artista irretocável. Sua vida foi pautada pelo amor e arte de viver o maracatu” afirma José Lourenço, presidente do Maracatu Estrela de Ouro, da cidade de Aliança, o qual Mestre Zé Duda mestrou, durante 41 anos. Vale destacar que, enquanto esteve como mestre do grupo, o Mestre Zé Duda levou o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança seis vezes ao pódio do concurso do carnaval do Recife; e outras seis na vaga de vice – campeão.

Em 2012, o cantor, compositor, violinista e escritor carioca, Jorge Mautner, fez uma parceria inédita com Mestre Zé Duda, que resultou em um projeto músical chamado Maracatu Atômico Kaosnavial, que misturava tradições da cultura popular da zona canavieira, como Maracatu, Ciranda e Cavalo Marinho. Juntos, eles percorreram várias capitais do país levando toda a musicalidade pernambucana. A parceria, inclusive, também rendeu um documentário especial, com a participação dos dois. “ Mestre Zé Duda foi um amigo e um artista, que sempre admirei. Percorremos cada lugar desse país, fazendo música. E, disso, sem dúvidas é o que mais sentirei saudades. Apesar de sua morte física, ele permanecerá vivo em nossas memórias, pela sua obra e talento, que agora tornaram-se legada” afirmou, emocionado, Mautner.

Para Afonso Oliveira, integrante do Movimento Canavial e consultor de projetos culturais e amigo pessoal do Mestre Zé Duda, a morte do artista deixará um legado para a história do país. “Pernambuco e o Brasil perdem seu mais ilustre mestre da cultura popular, o Mestre Zé Duda. Vivemos muitas histórias ao lado de Zé Duda, que tinha uma voz inigualável e um jeito genuíno de fazer suas poesias. O mundo sempre parou para lhe escutar. Um poeta dos mais extraordinários que eu vi e convivi. Que seu legado seja inspiração para os novos mestres, e que sua poesia seja eterna” cravou.

Trajetória – Mestre Zé Duda, que tinha por nome José Bernardo Pessoa, nasceu na cidade de Buenos Aires, na Zona da Mata Norte no ano de 1939. Sua vivência no maracatu rural em 1950, como mestre, sendo já respeitado como o peito de aço. O seu primeiro trabalho como mestre de maracatu foi no Leão do Engenho Vasconcelos, de Buenos Aires; em seguida mestrou um boi amaracatuzado de Lau Marchante, também de Buenos Aires; depois no Engenho Jardim mestrou a Caravana composta de Maracatu e um bloco de Manuel Rafael. Ano mais tarde, tornou-se mestre no Engenho Bonito de Condado no Maracatu Cambinda Estrela de Luiz de Justo; depois foi para Engenho Retiro, também em Condado, onde foi mestre do Leão Coroado. Sua última participação foi no Maracatu Rural Estrela de Ouro, da Chã de Camará, em Aliança, na Zona da Mata Norte. Lá, esteve à frente do grupo por 41 anos. Em 2015, por questões de saúde, acabou se afastando das atividades.

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