A Zona da Mata de Pernambuco sempre foi lembrada como uma região de contrastes: abundância natural e cultural, mas também marcada pela falta de oportunidades para seus jovens. Durante décadas, a principal saída era migrar para os grandes centros urbanos em busca de emprego. Esse cenário, no entanto, está mudando e a ONG Giral é protagonista dessa transformação.

Desde 2022, a Giral executa o Programa de Formação de Adolescentes e Jovens Empreendedores, que oferece muito mais do que aulas teóricas. São 11 módulos de capacitação que ensinam desde como estruturar um plano de negócios até como divulgar e vender produtos ou serviços.
O diferencial é que, ao final da formação, cada aluno aprovado recebe uma doação de R$ 2.400,00 em capital de giro para iniciar sua atividade empreendedora.
Esse recurso é simbólico e estratégico: em comunidades onde muitas vezes o acesso ao crédito é inexistente, ele representa a chance concreta de abrir uma pequena confecção, um negócio de comida, um salão de beleza, a criação de animais, um plantio na área de agricultura ou até uma startup.
DANIELE: DA SALA DE AULA AO PRÊMIO SEBRAE
Um caso emblemático é o de Daniele do Carmo da Silva Oliveira, 28 anos, moradora de Pombos. Proprietária do estúdio Daniele Alencar Beauty, ela procurou a Giral para fortalecer sua gestão e aprender mais sobre como expandir.
Hoje, além de ter consolidado sua marca, Daniele venceu no mês passado (agosto) o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios de Pernambuco. O prêmio reconhece mulheres que contribuem significativamente para o desenvolvimento econômico do Brasil.
“Quando decidi empreender, enfrentei muitas dúvidas e inseguranças. A Giral foi fundamental para me dar confiança e clareza. Hoje, não apenas conquistei um prêmio importante, mas também inspiro outras jovens da minha cidade a acreditar em si mesmas”, relata.

IMPACTO COLETIVO:
A trajetória de Daniele é só um exemplo do que já se tornou uma tendência. Em apenas três anos, o programa formou mais de 300 jovens empreendedores e investiu mais de R$ 1 milhão em capital de giro. Atualmente, 80 adolescentes e jovens estão na fase de apresentação de projetos ao Comitê Gestor, e em breve receberão o financiamento de R$ 2.400 reais que podem mudar vidas.
Esses novos negócios não são apenas individuais: eles fortalecem cadeias produtivas locais, dinamizam a economia e, sobretudo, quebram o ciclo histórico de dependência da região. Em vez de ver seus jovens partindo para os grandes centros urbanos do país, as cidades começam a enxergar talentos em casa.
Esse movimento só é possível graças ao apoio de patrocinadores estratégicos que acreditam no poder do empreendedorismo para gerar impacto social. O Inter-American Foundation (IAF) é um deles: criada em 1968, a agência norte-americana atua em mais de 20 países da América Latina e Caribe, sempre com foco em projetos de base comunitária que geram autonomia e desenvolvimento sustentável.
No Brasil, empresas de grande porte também estão envolvidas. O BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, tem apostado em programas que unem inovação e impacto social. A Perfect Automotive, referência no setor automotivo, apoia a formação de jovens para o futuro do trabalho. Já o Grupo Sabará, que atua com soluções inovadoras e sustentáveis no setor químico, vê no apoio ao empreendedorismo jovem uma estratégia alinhada às suas práticas de responsabilidade socioambiental.
O FUTURO COMEÇOU:
O resultado é claro: jovens que antes viam no Recife ou em São Paulo o único caminho agora se reconhecem como protagonistas de uma nova economia local. Negócios de agricultura sustentável, moda criativa, doces regionais, tecnologia e beleza estão surgindo em cidades como Pombos, Glória do Goitá, Feira Nova e Lagoa de Itaenga.
“E o mais importante: esses jovens não estão apenas gerando renda. Eles estão criando autoestima, construindo sonhos coletivos e provando que a Zona da Mata de Pernambuco pode ser sinônimo de futuro e inovação”, destaca o presidente da Giral, Leonildo Moura.
“Esse programa é uma semente plantada que já dá frutos. Cada jovem que decide empreender aqui é um passo a menos no caminho da migração e um passo a mais no fortalecimento da identidade e da economia local”, conclui a coordenadora da Giral, Isabela Carvalho.