Universitários e crédito estudantil: como planejar sem comprometer a vida financeira

Crédito estudantil pode viabilizar formação superior, mas exige atenção ao planejamento e ao impacto futuro no orçamento pessoal

Por Rafael Santos 22/09/2025 17:17 • Atualizado Há 1 hora
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Em 2025, o Brasil ultrapassou a marca de 8,9 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O dado revela a dimensão do setor e a crescente busca por qualificação acadêmica. 

Nesse cenário, o crédito estudantil surge como alternativa para quem não tem condições de arcar com mensalidades elevadas, mas deseja ingressar ou permanecer na universidade. A decisão, no entanto, exige planejamento para evitar que o benefício se transforme em uma dívida de longo prazo que comprometa a vida financeira.

O avanço do crédito estudantil no país

Programas públicos e privados impulsionaram o crescimento da modalidade. O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), criado pelo governo federal, já beneficiou milhões de jovens. Paralelamente, bancos e fintechs lançaram linhas de crédito específicas, ampliando o acesso. Dados da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) indicam que 46% dos universitários que ingressaram em instituições privadas em 2024 utilizaram algum tipo de financiamento ou parcelamento.

Esse movimento acompanha a elevação do custo da mensalidade média no ensino superior privado, que superou os R$ 1.200 em 2024, segundo levantamento da Educa Insights. Para muitas famílias, o valor é incompatível com a renda mensal. O crédito, nesse contexto, garante acesso, mas precisa ser acompanhado de consciência sobre juros, prazos e impactos na rotina financeira.

Planejamento é peça central

Antes de recorrer a qualquer modalidade, especialistas recomendam uma avaliação completa das finanças. É necessário levantar receitas fixas, despesas recorrentes e dívidas existentes. O crédito estudantil não deve ser assumido sem considerar a capacidade real de pagamento no futuro. A recomendação mais comum é que parcelas de financiamentos não ultrapassem 30% da renda líquida.

Outro ponto relevante é considerar a fase de carência, em que o estudante pode não precisar pagar o valor integral. Embora esse período ofereça fôlego, ele pode gerar acúmulo de encargos. Muitos universitários acabam subestimando o peso das parcelas no orçamento pós-formatura, o que pode levar ao endividamento.

Comparação de modalidades disponíveis

O mercado apresenta opções distintas, com características próprias. O Fies, por exemplo, tem critérios de renda e desempenho acadêmico para acesso, além de taxas mais baixas em comparação ao mercado privado. Já os financiamentos oferecidos por bancos e fintechs contam com maior flexibilidade, mas em muitos casos aplicam juros superiores.

Pesquisar instituições financeiras, simular valores e comparar prazos pode gerar economia significativa. A diferença entre contratos semelhantes pode ultrapassar 15 pontos percentuais na taxa final, segundo dados do Banco Central. Uma análise criteriosa ajuda a identificar qual alternativa se encaixa melhor no perfil do estudante e da família.

Impacto no futuro profissional

O crédito estudantil não é apenas uma questão de viabilizar o acesso imediato. Ele influencia diretamente a vida profissional e o planejamento após a graduação. Um recém-formado que inicia a carreira com obrigações financeiras elevadas pode ter menos espaço para investir em especializações ou construir uma reserva de emergência.

Nesse sentido, é importante alinhar a escolha do curso com perspectivas de retorno no mercado. Carreiras com maior empregabilidade e salários compatíveis oferecem melhores condições para equilibrar o pagamento das parcelas e ainda possibilitar investimentos de longo prazo.

A relação com a renda variável e os investimentos

Do meio da graduação em diante, muitos estudantes começam a se interessar por investimentos como forma de ampliar sua segurança financeira. Nesse ponto, é comum surgir a dúvida sobre a renda variável. A aplicação em ações, fundos imobiliários ou outros ativos pode ser uma alternativa de diversificação, mas não deve ser vista como garantia para quitar dívidas futuras.

A recomendação de analistas é que, antes de se expor à renda variável, o estudante organize o orçamento e mantenha equilíbrio entre pagamentos fixos e eventuais investimentos. A combinação de educação financeira e disciplina aumenta a probabilidade de que o crédito estudantil seja quitado sem comprometer outras metas.

Educação financeira como aliada

Um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que menos de 40% dos jovens brasileiros dominam conceitos básicos de juros e orçamento. Essa lacuna torna o planejamento do crédito estudantil ainda mais desafiador.

Inserir a educação financeira no cotidiano dos universitários é uma forma de reduzir riscos. Anotar despesas, acompanhar aplicativos de gestão e estabelecer metas realistas são práticas que fortalecem a autonomia. Esse preparo ajuda a transformar o financiamento em um recurso estratégico, e não em fonte de preocupação.

Caminhos para escolhas sustentáveis

O crédito estudantil seguirá como alternativa relevante para milhões de jovens no Brasil. No entanto, sua utilização precisa ser acompanhada de responsabilidade. Avaliar condições, compreender prazos e alinhar expectativas com a realidade do mercado de trabalho são passos indispensáveis.

Com acesso à informação de qualidade, os estudantes podem transformar o financiamento em um aliado para a formação acadêmica e profissional. O equilíbrio entre planejamento, comparação de opções e conhecimento financeiro é o que determina se a dívida se tornará um obstáculo ou um investimento no futuro.

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