O Crescimento do Turismo Comunitário nas Cidades da Mata Norte

Por Rafael Santos 15/04/2025 11:59 • Atualizado Há 4 dias
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Primeiro, uma pergunta sem rodeios: quando foi a última vez que você ouviu falar de Condado, Ferreiros, ou Itaquitinga como destinos turísticos? Pois é. Não são nomes que pulam aos olhos nos pacotes de agências de viagem. Mas, nas entrelinhas da realidade nordestina, algo diferente está crescendo ali, nas entranhas da Mata Norte de Pernambuco: o turismo comunitário. E não se trata de uma moda passageira. É raiz, é chão, é povo se movimentando.

Entre Engenhos, Maracatus e Café Coado

A Mata Norte, região conhecida por seus engenhos de cana-de-açúcar e manifestações culturais riquíssimas como o Maracatu Rural, sempre teve potencial. Mas esse potencial esteve, por muito tempo, adormecido, domesticado pela lógica dos grandes polos turísticos que monopolizam os olhares – Recife, Olinda, Porto de Galinhas. Eis que comunidades locais começaram a reverter o jogo.

Não com resorts. Nem com investimentos milionários. Mas com rede na varanda, café passado no coador de pano, histórias contadas na varanda da casa da dona Maria. O que está sendo vendido? Experiência. Genuína, sem filtros.

O Que é, Afinal, Turismo Comunitário?

Vamos deixar a teoria clara: turismo comunitário é aquele gerido pela própria comunidade, com participação ativa dos moradores nas decisões, nos roteiros, no acolhimento e, claro, nos lucros. A lógica é horizontal, e não vertical. Esqueça o turista passivo. Aqui, quem visita aprende, troca, respeita.

Na cidade de Tracunhaém, por exemplo, o turista pode não só comprar uma peça de cerâmica, mas também aprender a fazê-la com um artesão local. Em Goiana, o visitante caminha pelas ladeiras acompanhando batuques de maracatus, aprendendo sobre a força ancestral da cultura afro-indígena. São experiências que não cabe num cartão-postal.

Crescimento em Números e Gente

Segundo dados do Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (IDEP), entre 2019 e 2024, houve um aumento de 42% no número de turistas que optaram por roteiros comunitários na Mata Norte. Pode parecer pouco à primeira vista, mas representa algo enorme: comunidades que antes estavam à margem da cadeia turística agora são protagonistas.

Mais de 60 comunidades em cidades como Nazaré da Mata, Aliança e Vicência já estão articuladas em redes de turismo de base comunitária. E isso se traduz em renda. Em Nazaré da Mata, por exemplo, uma cooperativa de mulheres artesãs viu sua renda média mensal subir de R$ 380 para R$ 980 em dois anos, graças à venda direta e oficinas para turistas.

Cultura Como Produto Vivo (e Não Mercadoria Morta)

Há um cuidado latente em não transformar a cultura em espetáculo para gringo ver. O desafio é constante: como mostrar o que é autêntico sem cair na armadilha da performance turística forçada?

Alguns grupos locais resolveram isso de maneira simples e eficiente. No Sítio Chã de Camará, por exemplo, quem visita participa das rodas de ciranda, mas também colhe milho, dorme em casas de famílias locais e compartilha refeições feitas no fogão à lenha. Não há “show”. Há vivência. E é aí que está o ouro.

O Papel das Universidades e da Juventude

E não se pode falar do crescimento desse modelo sem citar os jovens da região. Muitos, antes migrando para as capitais, hoje optam por ficar – ou até retornar – com uma nova visão: empreender onde nasceram. Com apoio de universidades como a UFRPE (Unidade Acadêmica de Nazaré da Mata), projetos de extensão vêm capacitando moradores em hospitalidade, gestão e marketing digital.

Essa junção de saberes populares com técnicas modernas tem sido um diferencial. Um exemplo concreto? A Comunidade Quilombola do Catucá criou um tour que une trilhas ecológicas, contação de histórias ancestrais e gastronomia local – tudo com reserva online e presença nas redes sociais. Resultado? Agendas lotadas nos feriados.

Desafios (Porque Nem Tudo São Flores)

Claro que há dificuldades. O transporte ainda é um gargalo. As estradas vicinais, muitas vezes em péssimo estado, dificultam o acesso. Além disso, há resistência por parte de setores tradicionais do turismo, que não veem com bons olhos um modelo que foge ao controle de agências e operadoras.

Também há problemas com acesso à informação ou violações de privacidade. Mas aqui tudo é mais simples, você pode baixar aplicativos VPN para PC. Vigilância online, segurança digital e restrições regionais são problemas na maioria das regiões do mundo. Seria uma boa ideia sempre usar VPN para iPhone, PC e outros dispositivos. Bons aplicativos de VPN, aqui só posso recomendar o VeePN, eles criptografam dados e impedem a identificação do usuário.

Outro ponto crítico é a regularização. Muitos empreendimentos comunitários funcionam de forma informal, o que impede acesso a crédito e apoio institucional. Há também o desafio da infraestrutura básica – saneamento, sinalização, internet. Afinal, é difícil atrair turistas se falta o mínimo.

O Futuro É Colaborativo (Ou Não Será)

O que a Mata Norte está ensinando ao Brasil é que o turismo pode ser ferramenta de transformação social real. Não é utopia. É prática. E é possível replicar isso em outras regiões, desde que se respeite a identidade de cada território.

A chave está na escuta. Não basta “levar turismo”. É preciso construir com, e não para, as comunidades. Quem manda na experiência é o povo. E isso muda tudo.

Enquanto alguns ainda acham que turismo bom é aquele com pulseirinha no pulso e buffet liberado, outros estão descobrindo o prazer de tomar caldo de cana na feira de Itambé, ouvir histórias de encantados nas margens do Rio Goiana e sair de lá levando mais do que fotos: levando aprendizado, respeito e, por que não, saudade.

Conclusão: Do Invisível ao Inesquecível

O turismo comunitário na Mata Norte ainda está em construção. Não é modelo pronto, nem receita de bolo. Mas é, sem dúvida, um caminho. Um caminho que começa no barro, passa pela memória e chega no coração de quem tem coragem de olhar para além dos cartões-postais tradicionais.

E se hoje pouca gente sabe onde fica Camutanga, talvez amanhã seja exatamente lá que o mundo queira estar. Não por acaso. Mas por escolha. Por verdade.

Porque, às vezes, é no lugar menos óbvio que se encontra a viagem mais marcante.

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