Coleção “Filhas do Sol” tem pré-lançamento na 32ª Feira do Bordado Manual de Passira

Fotógrafa, estilista e bordadeiras de Passira fizeram imersão de saberes manuais durante quatro meses no Agreste e pré-lançam coleção cápsula exclusiva

Por Rafael Santos 29/11/2018 07:20 • Atualizado 29/11/2018
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Os fios do bordado conduzem um diálogo feminista entre gerações e dão o tom de “Bordando o feminino”, projeto desenvolvido em Passira, conhecida como a “terra dos bordados”, durante quatro meses. Realizado pela fotógrafa pernambucana Laís Domingues, a estilista paulista Thanina Godinho e as bordadeiras da AMAP – Associação de Mulheres Artesãs de Passira, um dos frutos desse intercâmbio no agreste de Pernambuco será o pré-lançamento da coleção cápsula “Filhas do Sol”, que acontece nos dias 30 de novembro, 1 e 2 de dezembro, durante a 32a edição da Feira do Bordado Manual de Passira.

O principal evento da região que visa escoar a produção do bordado, considerado um patrimônio cultural reconhecido internacionalmente, trará seis modelos das 48 peças produzidas ao longo de 64h de aulas, todas com o selo Bordados de Passira. O lançamento oficial se dará posteriormente no Recife, ainda sem data definida.

Uma das contrapartidas do projeto desenvolvido junto às trabalhadoras da AMAP foi o desenvolvimento das oficinas de modelagem, tingimento natural com matérias-primas locais (cajueiro roxo, açafrão da terra, café, eucalipto) em uma coleção feita por elas e para elas. Iniciada no mês de agosto passado, a programação contou com etapas importantes no desenvolvimento da coleção. “Ficamos um mês trabalhando o processo criativo dos desenhos das peças e dos bordados”, observa a estilista paulista Thanina Godinho, coordenadora da coleção, que destaca, ainda, que esses desenhos revelam paisagens da cidade e da zona rural, revisitadas pelo grupo.

“O projeto é como uma reafirmação de toda a transformação que venho vivendo desde que descobri o universo têxtil. Aqui aprendi não só a bordar, mas como se vive desse ofício e como o bordado e a costura podem transformar a realidade das mulheres”, conta Laís, idealizadora do projeto, que recebeu aulas de técnicas de bordado durante a imersão. “Sempre tive paixão por costura, gostei muito de participar do projeto de modelagem, aprendi como tirar molde, cortar… Já a de tingimento, não sabia que tinha tantas cores bonitas tiradas da natureza. Quanto ao bordado, a gente usava muito o padrão, aprendemos a misturar cores, as linhas, é muita coisa interessante”, conta Francinete do Nascimento, bordadeira da coleção, sobre a troca de saberes.

O projeto foi aprovado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE) e contou com o apoio da Bordados de Passira, Circulo e da Prefeitura de Passira.

SOBRE A COLEÇÃO

Uma junção de mãos habilidosas, que bordam cenários regionais e costuram memórias, uma cartela de cores da terra, tecidos vegetais, a significação do feminino e peças com silhuetas relaxadas constituem a essência da coleção “Filhas do Sol”. Os cheiros do cajueiro roxo, açafrão da terra, eucalipto e o café ficam registrados no tecido. Foi necessário um mês para a realização do tingimento à mão de todas as peças, em tons terrosos, secadas ao vento fresco.

A paleta de cor reduzida e significação emotiva – o conceito central da coleção, vale ressaltar, é a força da natureza, que inspira o corpo, o território e a memória dos femininos, e como isso é exteriorizado. Já no plano têxtil foram escolhidos o algodão e o linho, tecidos vegetais. “Materiais nobres, ancestrais e resistentes que evocam, inclusive ao passar pelo tingimento natural, essa sensação terrosa primordial”, explica Thanina.

Demais conceitos da Filhas do Sol remetem à capacidade feminina de existir, construir, pertencer e estabelecer um olhar atento, alegre e ao seu lugar. Peças que são soltas e cômodas, trabalhadas em silhuetas super-relaxadas, resultando numa produção de roupas totalmente atemporal e que abraçam, segundo a estilista, a pluralidade do corpo feminino. Uma coleção realizada artesanalmente, com a menor utilização de máquina possível, perpetuando a antiga tradição de bordar, valorizando o trabalho coletivo e a sustentabilidade ambiental.

Lais Domingues – Teve seu primeiro contato com a fotografia profissional em 2011 e, desde então, só se aproximou das artes visuais. Estudou cinema em Buenos Aires (Centro Cultural Ricardo Rojas), fotografia e gestão cultural (Universidad de Avellaneda), e realizou sua primeira exposição individual em 2014 (Epecuén: Retratos de uma ambição), no coletivo Sexto Andar, no Recife. Amante da fotografia analógica e dos processos artesanais, a artista atualmente trabalha com fotografia, vídeo e bordado além de fazer parte da equipe de produção e curadoria de exposições e oficinas do ateliê Caverna Lunar, tendo ministrado oficinas de fotografia bordada no Recife e em São Paulo. Descobriu as linhas e o bordado em 2015 e vem se dedicando à mescla dessas duas técnicas. Participou como fotógrafa e videoasta do projeto Artesãs Têxteis de Pernambuco, da artista Clara Nogueira, que teve como produto final o site www.mulheresquetecempe.com.br.

Thanina Godinho – Formada em Designer de Indumentária e Têxtil pela Universidad de Palermo, na Argentina, a estilista tem direcionado seu trabalho a práticas que valorizam a sustentabilidade e o respeito à natureza. Nascida em Ribeirão Preto (SP), viveu por sete anos em Buenos Aires e, durante esse período, estudou tingimento natural e tecelagem com as mulheres indígenas camponesas dos antigos povoados dos Andes e Vales inter-Andinos Bolivianos. Coordena oficinas utilizando técnicas como tingimento botânico, estamparia botânica, Shibori (técnica de amarração), estamparia com mordentes, entre outras. Tecelã da trama dos saberes ancestrais femininos, participa de círculos de mulheres, com atividades que resgatam a importância e o respeito que merecem seus ciclos, e leva essa vivência para a atividade profissional. Estilista de visão mística e viajante sempre pronta, criou, durante o período de residência em Trancoso (BA), uma marca própria de roupas naturais, a Tanina.

AMAP – A Associação de Mulheres Artesãs de Passira iniciou seus trabalhos em 2007, quando as artesãs sentiram a necessidade de se reunir em torno de uma sociedade civil para “estimular, congregar e encontrar soluções para problemas socioeconômicos dos associados, promover o intercâmbio e experiências profissionais, representar a classe junto aos órgãos governamentais e privados”. A associação é constituída por cerca de 50 mulheres de idades variadas que, organizadas em cooperativa, participam de feiras, realizam formações e produzem coleções de vestuário feminino, comercializando seu trabalho, através da loja online em redes sociais e eventos. http://www.bordadosdepassira.com.br | Instagram: @bordadosdepassira

Serviço

Pré-lançamento da coleção “Filhas do Sol”, na 32ª Feira do Bordado Manual de Passira

Datas: 30 de novembro, 1 e 2 de dezembro, das 7h às 18h

Local: Rua da Matriz, Passira – PE

Entrada gratuita

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