Hemobrás: ministro articula fábrica no Paraná e incomoda bancada de Pernambuco

Por Rafael Santos 06/07/2017 00:19 • Atualizado 06/07/2017
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Dez deputados pernambucanos e os senadores Armando Monteiro Neto (PTB) e Humberto Costa (PT) se reuniram com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, nesta quarta-feira (5) para questionar a articulação pela construção de uma fábrica de hemoderivados em Maringá, no Paraná, reduto eleitoral do político do PP. A preocupação da bancada do Estado é sobre a produção na unidade da Hemobrás em Goiana, na Mata Norte, que, na avaliação dos parlamentares, poderia passar a não ter prioridade sobre o fator VIII recombinante, usado no tratamento de hemofílicos, e que tem o maior valor agregado entre os produtos.

“A preocupação é que Pernambuco fique produzindo o que tem de menor valor agregado e o ministro leve para o estado dele o que tem de maior”, explicou o deputado João Fernando Coutinho (PSB-PE). A construção da fábrica em Goiana começou em 2010 e foram investidos R$ 820 milhões na planta até agora. “Ninguém é contra a construção de fábrica no Paraná, mas nós temos que preservar a nossa empresa estatal, a Hemobrás.”

De acordo com João Fernando Coutinho, o ministro apresentou as questões técnicas sobre o negócio, que já é alvo do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU). O consórcio seria formado, além da Hemobrás, pela empresa suíça Octapharma, citada na Operação Máfia dos Vampiros, e os laboratórios públicos Butantã, de São Paulo, e Tecpar, do Paraná. Seriam investidos R$ 200 milhões na unidade de Pernambuco, mais R$ 200 milhões para a construção da fábrica no Paraná e R$ 50 milhões em São Paulo.

O modelo seria diferente do que é realidade hoje na fábrica pernambucana. Desde 2013, por problemas técnicos da parceira anterior, a Hemobrás tem uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a empresa francesa Shire para a produção do fator VIII recombinante.

A tecnologia para a produção seria transferida para o País até 2023. De acordo com o Tribunal de Contas da União, porém, os investimentos não foram feitos para a adaptação da fábrica e o Ministério da Saúde descumpriu o acordo ao reduzir inclusive as compras de hemoderivados. A expectativa era de que, com o conhecimento para a fabricação, a Hemobrás pudesse exportar o medicamento para a América Latina.

A deputada Luciana Santos (PCdoB) defende que retirar a produção do fator VIII recombinante seria “matar a Hemobrás por inanição”. “Esta é uma manobra: o ministro vai dizer que não quer acabar, vai dizer que está ampliando. Mas é uma pegadinha, porque quando você coloca a produção em outra cidade você simplesmente matou a produção que tem aqui. A gente precisa defender o investimento que já foi feito. Essa proposta é uma coisa insana, sem nenhuma justificativa para acontecer”, criticou. “Nesse debate acho que ficou claro que estamos tratando da joia da coroa.”

A bancada do Estado deve voltar a se reunir na próxima semana para avaliá-lo sob o ponto de vista jurídico. Depois disso, pretende ainda procurar o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), já que a gestão estadual é sócia minoritária do projeto, e até o presidente Michel Temer (PMDB). Aos parlamentares, o ministro afirmou que já se reuniu com o Conselho de Administração da Hemobrás sobre o assunto.

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